27 de dezembro de 2011

Ano Novo

Deviantart/jennyriot



Um brinde ao que está sempre em nossas mãos
A vida inédita pela frente
E a virgindade dos dias que virão!

Libação



 
Desejo a todos os amigos que durante o ano de 2011
navegaram pelas serenas e, por vezes, inquietantes águas desses 
rios, e aos que, porventura, navegarão, um 
Feliz e Próspero Ano Novo! 

12 de dezembro de 2011

Sonho

daqui






Quem não sonha o azul do vôo
perde seu poder de pássaro.

Thiago de Mello
Sonho Domado
é por isso que... 
Para encontrar o azul
eu uso pássaros.

Manoel de Barros
Retrato do Artista Quando Coisa




6 de dezembro de 2011

A tua mão



Quando a tua mão pousou
sobre a minha mão
nesse rastro de ave
nesse peso de folha
eternizou-se o instante.

Maria de Lourdes Hortas
A tua mão

Não importa quanto vai durar
- é infinito agora.


Caio Fernando Abreu






1 de dezembro de 2011

Fragilidade é força

Scott Barrow/Corbis


As coisas mais rápidas são as mais maleáveis. Um pássaro é ativo porque é maleável. Uma pedra não tem nenhuma chance porque é rígida. A pedra, por sua própria natureza, vai para baixo porque rigidez é fraqueza. O pássaro pode, por sua própria natureza, ir para cima, porque fragilidade é força. O orgulho é a resistência que empurra para baixo.

Ortodoxia




28 de novembro de 2011

Para um amor ausente

Fotolog/teesperare4ever



Penso em ti como um desejo interrompido
que se teceu na minha memória.
E sonho-te mais do que te recordo.
Seleciono. Invento-te um nome, um rosto.
Reconstruo. Reconstruo-te.
Peça a peça.
Minuciosamente – real ou irreal,
- Assim te lembro.


Fragmentos de um Discurso Amoroso [7]
(ou carta quase póstuma para um amor ausente)  

na outra margem da noite
o amor é possível

leva-me

leva-me entre as doces substâncias
que morrem a cada dia em tua memória.
 ===

en la otra orilla de la noche 
el amor es posible
--llévame--
llévame entre las dulces sustancias 
que mueren cada día en tu memoria.
El Olvid

 

22 de novembro de 2011

O menino aprendeu a usar as palavras

Kenji Hayashi/amanaimages/Corbis



O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando
ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
Exercícios de Ser Criança 

Para Thiago.
Um brinde pela conclusão do seu curso de Literatura Comparada.
Sim, o menino ainda existe, meu amigo.


15 de novembro de 2011

Mãos

Getty Images/Barnaby Hall



Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender.

Coral/Obra Poética

Asas que fossem, tuas
mãos podiam
tocar a íntima
nervura do silêncio.

Vocação do Silêncio 



4 de novembro de 2011

Meio-termo

Vincent Besnault/zefa/Corbis



Não deixe portas entreabertas.  Escancare-as ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas passam apenas semiventos, 
meias verdades e muita insensatez.
 
Calçada de Verão


Se não brilha mais, não insista.
Lâmpada queimada não se arruma.
Se troca por outra.



    


31 de outubro de 2011

Resíduo




Pois de tudo ficou um pouco
 Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.



  ,

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira/MG, em 31 de outubro de 1902 e morreu em 1987, aos 84 anos. Hoje estaria completando 109 anos.




27 de outubro de 2011

O coração do teu silêncio

Wallpapers e Imagens



As palavras habitam o coração do silêncio
e se eu não sei contar as palavras
que há dentro dos teus poemas
como posso saber quantas habitam
o coração do teu silêncio.

José Rui Teixeira
Quando o Verão Acabar

É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.
Só nas minhas mãos
oiço a música das tuas.


22 de outubro de 2011

Em nome do teu nome

Eleonorah



















 
Em nome do teu nome, invoco o sul do silêncio
e arrimo o corpo ao vagar dos teus dedos.
Depois, deixo que me invadas, poro a poro,
que me cerques, me sacies e que a luz ilícita
dos teus olhos me ajuste ao teu abraço.


Graça Pires
Quando as estevas entraram no poema




19 de outubro de 2011

Todo o sal do mar no meu peito


Deviantart/JDMFCharlie


....Os muros.
....Todos os muros.
....Um só muro.
....E toda a sede.
....E todo o sal do mar no peito.
...Albano Martins 
...... .Assim São As Algas
Ah, todo o cais é uma.....
saudade de pedra!...........
.......

Álvaro de Campos.........
Ode Marítima.........





26 de setembro de 2011

Ritual

Beau Lark / Corbis



desde que foi embora, o mesmo ritual: 
caixa sobre colo, eu tiro o laço, 
desfaço a fita, jogo a tampa. 
e não me animo com o presente. 
desde que foi embora, eu apenas 
desembrulho o meu dia. 
sem etiqueta de troca, 
não sei o que faço com ele.


21 de setembro de 2011

O meu gostar de ti

Deviantart/initio


Há um caminho marítimo no meu gostar de ti
Há um porto por achar no verbo amar
há um demandar um longe que é aqui.
E o meu gostar de ti é este mar.
 
Amor de Fixação
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
 quero o teu nome escrito nas marés.

Manuel Alegre
Coração Polar


11 de setembro de 2011

Minhas cores, meu colírio





Passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras
e escove a alma com leves fricções de esperança.
De alma escovada e coração estouvado,
saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.

 


Parabéns, minha querida linda!
Meu amor é todo seu.



25 de agosto de 2011

Quando cada instante é sempre


Google Imagens
(desconheço a autoria)



É por isso que te escrevo. Não há morte, nesta carta. Mas há uma despedida que é um pequeno modo de morrer. Lembras-te como dizia Zacaria? "Tive as minhas mortes, felizmente, todas elas passageiras." A minha única morte foi a de Marcelo. Essa, sim, foi o primeiro desfecho definitivo. Não sei se Marcelo foi o amor da minha vida. Mas foi uma vida inteira de amor. Quem ama, ama para sempre. Nunca faças nada para sempre. Exceto amar.

Antes do Nascer do Mundo


Título do post: Chico Buarque - "Sempre".



20 de agosto de 2011

O nó era fraco




Eu me arrebentei, assim, porque o nó era fraco. Frouxo. Mal dado. Eu afundei, em segundos, porque no meu casco havia um buraco milimétrico por onde o mar entrou, aos poucos. Inteiro. Eu caí com o primeiro vento porque não havia tijolos. Eu era construção mal feita. Erguida na pressa. Madeira com pregos mal batidos. Fachada. Eu derreti ao sol porque era de plástico. Sumi no sopro porque era pó. Eu me quebrei na primeira queda porque, por dentro, não havia mais nada. eu me sentia forte, sem saber que já era oco.


 
Eduardo Baszczyn

Coisas da Gaveta
 
Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e
ninguém suspeitar dos traumas, das quedas,
dos medos, dos choros.

 

15 de agosto de 2011

A memória da pele

Maxu



Acabei hoje o sabonete cujo uso iniciaste aquando
o teu último banho cá em casa. Ficaram coisas que
te pertencem e que não sei se deva guardar,
a saber: um candeeiro, um desenho, uma fotografia.
Outras coisas ficaram
alguns discos e já não sei que livro. Não ferem
Tanto.
Há ainda a memória da pele, o amarelo dos olhos e
algumas expressões do teu português falado.
Mas estas últimas já se confundem com o
espírito da casa, quero dizer-te com a poeira da casa.
  


A Jornada de Cristóvão de Távora. Primeira Parte
 


10 de agosto de 2011

Das lembranças

EmeraldEl / Devianart




Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva,  até que somos mais emprestados do que devolvidos. 
 Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças. 






1 de agosto de 2011

A luz que me desenha

Flickr/jdcow


Vem de antes do sol
A luz que em tua pupila me desenha.
Aceito amar-me assim
Refletida no olhar com que me vês
.

Balé 


E a minha alma tem agora amplas
janelas, viradas a sul, com vista
para o lago dos teus olhos.


Inês Pedrosa
Fica Comigo Esta Noite



27 de julho de 2011

Há dias assim




Às vezes passo por desfolhamentos.






18 de julho de 2011

Coração em brasa

hr
daqui

Coração em brasa,
cinza por todo o lado
um vermelho assim não tem regresso.

Juros de Demora
 Com cinza 
 nada se escreve a não ser 
 as vogais do silêncio. E este
é o nome que se dá à ausência,
quando a noite e a poeira
dos astros pousam
sobre a ranhura dos olhos
.

Albano Martins
  Escrito a Vermelho






14 de julho de 2011

O amor tem fome

 Waclaw Wantuch



De todas as palavras que trago gravadas na pele
Amor é a que me assalta de madrugada
O amor tem fome, muita fome
Meu corpo são bocas abertas
A madrugada me atravessa.


Viviane Mosé
Toda Palavra 
Estão aqui 37 graus
É um corpo
E ninguém se aproxima senão para
Recuar
Devorar
Ou ficar.

Vasco Gato



Por razões que desconheço, os posts 
do Dois Rios não estão sendo atualizados
no blogroll dos seguidores. Enquanto o
problema não se resolve, amargo 
uma solidão de ilha.



5 de julho de 2011

De tanto te esperar

Olhares/Deee





Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer
de tanto te esperar.


Chico Buarque
Sem Fantasia/1967
 Na espera havia perdido a força das coxas, a
 dureza dos seios, o hábito da ternura, mas
conservava intacta a loucura do coração.


Gabriel García Márquez
Cem Anos de Solidão





29 de junho de 2011

A folha que ainda não caiu


daqui
















O jovem e afoito monge budista pergunta ao velho e lento mestre:
- Mestre, o que é o Amor?
- É a folha que ainda não caiu do galho da cerejeira...
- Como assim, mestre? Se ainda não caiu, essa folha não existe –ao menos 
como folha caída...
- Também o Amor está sempre por fazer-se e nunca se completa.
- Mas a folha acaba caindo...
- Por isso o Amor é a folha que ainda não caiu do galho da cerejeira...



Wilson Bueno
Meu Bem, Meu Mal / Do amor índio e outros amores






Oferecido pelo Marcos Alderico

25 de junho de 2011

Afeto, a maior porta

daqui


O peso dos versos de Mario Benedetti
se equivalem a dimensão do poema.
Assim é.  Que assim seja!


Como fazer-te saber que há sempre tempo?
Que temos que buscá-lo e dá-lo…
Que ninguém estabelece normas, senão a vida…
Que a vida sem certas normas perde formas…
Que a forma não se perde com abrirmo-nos…
Que abrirmo-nos não é amar indiscriminadamente…
Que não é proibido amar…
Que também se pode odiar…
Que a agressão porque sim, fere muito…
Que as feridas fecham-se…
Que as portas não devem fechar-se…
Que a maior porta é o afeto…
Que os afetos definem-nos…
Que definir-se não é remar contra a corrente…
Que não quanto mais se carrega no traço mais se desenha…
Que negar palavras é abrir distâncias…
Que encontrar-se é lindo…
Que o sexo faz parte da lindeza da vida…
Que a vida parte do sexo…
Que o porquê das crianças tem o seu porquê…
Que querer saber de alguém não é só curiosidade…
Que saber tudo de todos é curiosidade malsã…
Que nunca é demais agradecer…
Que autodeterminação não é fazer as coisas sozinho…
Que ninguém quer estar só…
Que para não estar só há que dar…
Que para dar devemos antes receber…
Que para nos darem há também que saber pedir…
Que saber pedir não é oferecer-se…
Que oferecer-se, em definitivo, não é querer-se…
Que para nos quererem devemos mostrar quem somos…
Que para alguém ser é preciso dar-lhe ajuda…
Que ajudar é poder dar ânimo e apoiar…
Que adular não é apoiar…
Que adular é tão pernicioso como virar a cara…
Que as coisas cara a cara são honestas…
Que ninguém é honesto por não roubar…
Que quando não se tira prazer das coisas não se vive…
Que para sentir a vida temos de esquecer que existe a morte…
Que se pode estar morto em vida…
Que sentimos com o corpo e a mente…
Que com os ouvidos se escuta…
Que custa ser sensível e não se ferir…
Que ferir-se não é sangrar…
Que para não nos ferirmos levantamos muros…
Que melhor seria fazer pontes…
Que por elas se vai à outra margem e ninguém volta…
Que voltar não implica retroceder…
Que retroceder também pode ser avançar…
Que não é por muito avançar que se amanhece mais perto do sol…

Como fazer-te saber que ninguém estabelece normas, senão a vida?

Mario Benedetti
Desde los afectos


.....................................................................Versão original aqui


20 de junho de 2011

Vou-me aproximando da minha idade


Deviantart/Cylena
 
Vivo sempre no presente. O futuro não o conheço. 
O passado, já não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo,
o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. 

Livro do Desassossego

Mas horas há que marcam fundo
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo.
Assim a vida nos afeiçoa

a idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.
Espelho
O título do post foi retirado de um
poema do livro "O Peso da Sombra" 
de Eugénio de Andrade.


16 de junho de 2011

Descobrindo vales

Amanda Com


Desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vai descobrindo vales.

Maria Teresa Horta
Desperta-me
 Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono.

Mia Couto 
Despedida


12 de junho de 2011

As mãos e os frutos

Yuri Bonder

Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera.

As mãos e os frutos 
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim.
Lola/1987