23 de julho de 2010

Poder

















Tens o poder de trazer ao dia
a música do meu corpo.
a música dos nossos corpos
debruçados um sobre o outro
e sobre as horas,
a cidade,
o vento.

Tens nas tuas mãos fluidas
o poder que mal sabes,
de alterar as marés
que me atravessam.

Silvia Chueire

Imagem: Gil Lemos

16 de julho de 2010

Trapezista



Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora. Eu queria ser trapezista, minha paixão era o trapézio. Me atirava do alto na certeza que alguém segurava-me as mãos não me deixando cair. Era lindo, mas eu morria de medo, tinha medo de tudo quase: cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo. Do que não ficava para sempre.

Antônio Bivar
extraído do disco Drama 3º Ato, de Maria Bethânia



Ainda que a palavra "medo" se repita tantas vezes no texto
de uma forma concreta, a minha intenção ao publicá-lo,
refere-se ao medo que está nas entrelinhas.
Medo do fim. Da perda. Da separação. Do "nunca mais".
Medo que não se vê e não se toca, mas se (pres)sente.
Medo do que não fica para sempre.



Imagem: Dewitt Jones/Corbis




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do blog Gritos e Sussurros





5 de julho de 2010

Sem norte

.
Ainda que eu pegasse
o mesmo velho trem,
ele não
me levaria
a ti, que não és mais.

José Paulo Paes / Revisitação

No meu olhar perdi tudo.
É tão longe pedir. Tão perto saber que não há
.

Alejandra Pizarnik / Voz Mendiga
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En mi mirada lo he perdido todo.
Es tan lejos pedir. Tan cerca saber que no hay.


Imagem: Geoff-Barrenger



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do blog On The Rocks