24 de março de 2010

A vida e as suas f(r)ases

Adonis Werther



- Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam idéias próprias.

- Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com idéias.

- Aos 30 anos pensamos que ninguém mais tem idéias.

- Aos 40 achamos que as idéias dos outros são todas nossas.

- Aos 50 pensamos com suficiente sabedoria para já não ter idéias.

- Aos 60 ainda temos idéias mas esquecemos de que estávamos a pensar.

- Aos 70 só pensar já nos faz dormir.

- Aos 80 só pensamos quando dormimos.


Mia Couto
Venenos de Deus, Remédios do Diabo
(fala do personagem Bartolomeu Sozinho)



Até onde me cabe opinar, as afirmações do personagem se encaixaram
tal e qual algumas fases da minha vida. Para opinar sobre as restantes, terei 
ainda que galgar mais alguns degraus, ou melhor dizendo, descer, rss...
Aliás, esse livro foi danado de bom de ler. Salve, Mia Couto!



22 de março de 2010

Deserto


























Percorro todas as tardes um
quarteirão de paredes nuas.
Nuas e sujas de idade e ventos.

...

 
Caminho todas as tardes por estes
quarteirões desertos, é certo.
Mas nunca tenho certeza se estou
percorrendo o quarteirão deserto
Ou algum deserto em mim.



Manoel de Barros
Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo



16 de março de 2010

Baú de memórias

















C
omo quando se tira um vestido velho do baú,
um vestido que não é para usar, só para olhar.
Só para ver como ele era.
Depois a gente dobra de novo e guarda

mas não se cogita em jogar fora ou dar.
Acho que saudade é isso.


As meninas


Selo oferecido pela Ana,
do blog Pelos Caminhos da Vida





10 de março de 2010

Meteorito

Thomas Baines




















Espero-te no inverno,
como sempre esperei todos
os anos. És fogo, sou gelo.

Sangro-me no teu sal que me
traz conforto. És fundo - não
fundo falso, nem venéreo: és
o piso onde se apóia a Terra,
e onde piso eu mesmo.

És fundo [repito], eu: superfície.
E no teu chão e no teu céu [arranhado
em sal] eu me admito: meteorito.

Toma-me e sua-me, como teu
passageiro.

Marcelo Novaes



7 de março de 2010

Dá licença que eu quero viver


Viver é um descuido prosseguido.

Sigo à risca.

Me descuido e vou...

Quebro a cara.

Quebro o coração.

Tropeço em mim.

Me atolo nos cinco sentidos.

Viver não é perigoso?

Então, com sua licença!



Guimarães Rosa



O velho Guima sabia das coisas.
Viver é isso. Um constante enfrentamento.
Não basta querer. É preciso coragem.
Imagem: Getty Images

1 de março de 2010

A sombra do vazio






 














No ponto onde o silêncio e a solidão
se cruzam com a noite e com o frio,
esperei como quem espera em vão,
tão nítido e preciso era o vazio.