27 de abril de 2009

E se...




E se te transformasses em pássaro?
Eu tranformava-me em céu, um vasto céu azul, com nuvens de fogo
nas pontas e sulcos de pétalas no centro; um fulgurante azul celeste
criado só para ver todo o fascínio do teu irromper.

E se te transformasses em água?
Eu transformava-me em fonte, ou talvez numa nascente, que a ânsia
de ver-te inundasse e nas paisagens que te vou escrevendo a minha
sede abrandasse.

E se te transformasses em estrela?
Uma imponente estrela de espuma com brilho de lava e gestos de
vento? Eu transformava-me em sombra, uma sombra incandescente,
onde tu: pássaro, água ou estrela, pudesses andar e na varanda de
minha espera, devagarinho, viesses pousar.

Victor Oliveira Mateus
(mais sobre o Victor)
em "Col. afectos: Amor", Labirinto.


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Desde que aportei pela primeira vez no blog A Dispersa Palavra, há quase um ano, tenho vontade de publicar uma poesia do meu amigo Victor (Oliveira Mateus), um poeta de versos exatos e peculiar sutileza. Pedi autorização, ele me acenou com um afetuoso "sim" e aqui, nas margens dos meus rios, compartilho com vocês a beleza de um de seus poemas.





23 de abril de 2009

Todo sentimento

José Eduardo T. Leite

Se fosse só sentir saudade.
Mas tem sempre algo mais. 

Angra dos Reis




20 de abril de 2009

Lembrança
















Em quem pensar, agora, senão em ti?
Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a
manhã da minha noite.
...
ensinaste-me
a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até
sermos um apenas no amor que nos une,

contra a solidão que nos divide.


Nuno Júdice
Pedro, lembrando Inês

Imagem: Gosia Barta

13 de abril de 2009

Vou ali ser feliz e já volto

Ata Haluk Enacar


ontem chorei. por tudo que fomos. por tudo o que não conseguimos ser. por tudo que se perdeu. por termos nos perdido. pelo que queríamos que fosse e não foi. pela renúncia. por valores não dados. por erros cometidos. acertos não comemorados. palavras dissipadas. versos brancos. chorei pela guerra cotidiana. pelas tentativas de sobrevivência. pelos apelos de paz não atendidos. pelo amor derramado. pelo amor ofendido e aprisionado. pelo amor perdido. pelo amor. pelo respeito empoeirado em cima da estante. pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa. pelos sonhos desafinados. estremecidos. adiados. pela culpa. toda a culpa. minha. sua. nossa culpa. por tudo que foi. e foi. e voou. e não volta mais pois que hoje é já outro dia. chorei. eu chorei. apronto agora os meus pés na estrada. ponho-me a caminhar sob sol e vento. eles secam as lágrimas. vou ali ser feliz e já volto.


 Caio Fernando Abreu




8 de abril de 2009

Pois há futuro em nossas janelas


Pois há futuro em nossas janelas,
Como em minha boca, um gosto ocre,
Me pinta um amor de aquarelas
Que faz de teu fel um resto doce.

Embriagado de ti, em ti me rendo
Ao teu de mim desconhecido
Nem te perdendo, nem te vendo,
Me entrego cego, reconhecido.

E busco ternuras de calendário,
Aos teus encantos, por fim, rendido.
De mim mesmo, meu adversário,
Me perco em ti, seu teu querido.

E busco o doce em tuas mãos,
Nelas me agarro, sobrevivente,
Como quem nega a própria razão
Na desmedida que nos faz gente.

E à tua pele dou a tensão
De ser nela a pele minha.
E aqui te faço minha perdição,
Meu sonho, minha alquimia.

José Eduardo Teixeira Leite
Desejo Morte e Carambolas
Imagem: Alvaro Ennes

5 de abril de 2009

Revelação

Google Imagens


Queres saber quem sou?
Eu sou o que te olha e espia para te recolher
e depois guardar num lugar que é só meu.

...
Eu sou o que mergulha as mãos na tua vida
para sentir a minha voltar.

Pedro Paixão
Muito, Meu Amor