27 de junho de 2008

Para além da paixão eterna



A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna 
é que o capricho dura um pouco mais.





Google Imagens
(desconheço a autoria)

26 de junho de 2008

Eterno enquanto dura


Para sempre é sempre é sempre por um triz.


Edu Lobo & Chico Buarque
Beatriz






Imagem: Paulo Sousa/Treknature

25 de junho de 2008

A outra face


 












Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar 

Traduzir-se

Google Imagens
(desconheço a autoria)

24 de junho de 2008

A luz da escuridão


 



 Foi pra repensar a luz
que eu precisei de tanto escuro.


Rodrigo Faria




Imagem: "Príncipe das Trevas"

23 de junho de 2008

Apesar de tudo...


  













Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio.
...
Resta essa imobilidade
essa economia de gestos
essa inércia cada vez maior diante do infinito.
...
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é.
...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Vinícius de Moraes
O Haver


Imagem: Volkmar Brockhaus/zefa/Corbis

Sem saída


 
Pela porta da frente eu não podia sair 
de dentro de mim mesmo com vida, 
porque não havia porta da frente.


Manoel de Barros


Imagem: Yang Liu/Corbis


21 de junho de 2008

Confissão


Pus o meu sonho num navio e o navio em cima do mar;
  - depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Cecília Meireles
Canção


Pintura de Edward Hopper

20 de junho de 2008

Hasta luego!



Durante duas semanas o Dois Rios deixará de ser "ao vivo", enquanto vou ali em Buenos Aires/Bariloche bailar un tango, namorar, e tomar uns bons vinhos.

Será uma ausência meio presente porque deixarei os posts programados para que se publiquem durante os dias em que eu estiver afastada da blogosfera.

Continuem navegando pelos meus rios. A visita de vocês serena as minhas águas.

Beijos aos que sempre me prestigiam com os seus comentários e/ou visitas, e as minhas boas-vindas aos que, porventura, chegarem aqui pela primeira vez.

Até a volta!

Imagem: Carlos Goldin/Corbis

19 de junho de 2008

Infinitamente




Chamo-te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.



Sophia de Mello Breyner Andresen
Chamo-te



Google Imagens
(desconheço o autor)

18 de junho de 2008

Os alicerces do ser

Linda/zefa/Corbis
 

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta
nosso edifício inteiro. 



Clarice Lispector
(trecho de uma carta escrita à sua irmã Tânia)
Berna/Suiça - 1947






17 de junho de 2008

O cristalino da incerteza
















Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei.

Não sei se fico ou passo.
...

Motivo


Imagem: Allan Boccard

Faltando um pedaço



















Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
...
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

A um ausente


Imagem: Denis Scott/Corbis

A estrada de cada um



O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a

estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos,  


para nos fazerem parentes do futuro.

 
Terra Sonâmbula


Google Imagens
(desconheço a autoria)

16 de junho de 2008

A urgência do que se foi


















É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade
É urgente o amor


Imagem: Paulo Medeiros/Olhares

Sem esperas


 











 
Se perguntares
como,
eu ficarei calada

...

Se perguntares
quando,
eu talvez diga
já...


Geir Campos

Fonte: Nobodyin

Googles Imagens
(desconheço a autoria)

14 de junho de 2008

Canto triste


 












Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas

E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?


Hilda Hilst
A Alma Entrelaçada dos Indescritíveis



Imagem: Mary Grekos

13 de junho de 2008

Antes da fila andar


Se você não demorar muito posso
esperá-lo por toda a minha vida.

Oscar Wilde


Para além do olhar














Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!


Mário Quintana
Confissão.
Imagem: Brett Weston/Corbis

12 de junho de 2008

Pelo amor predestinada

 
















Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.


Sophia de Mello Breyner Andresen
Mar Sonoro


à você amor,
pelos nossos 23 anos de namoro.
FELIZ DIA DOS NAMORADOS!


Imagem: John Still/GettyImages



11 de junho de 2008

Caligrafia na pele

 













Os dedos com que me tocaste
persistem sob a pele, onde a memória os move.

Luis Miguel Nava


ver comentário


10 de junho de 2008

Um passinho à frente por favor...














E a fila anda

tanto pra quem vai

à frente soberbo e imponente

quanto pra quem vai atrás

cansado e descontente.

Imagem: Frans Lanting/Corbis

Da fruta ao caroço




















Queres dar-me o caroço?
Obrigada! Não me apraz
Da fruta, é a carne que satisfaz
E dela, tu sabes, gosto por demais.

Do caroço e seu valor
só quando da fruta
vem o sabor.



Imagem: Lew Robertson/Corbis.



9 de junho de 2008

O apenas que se basta



 











No início,
eu queria um instante.
A flor.
Depois,
nem a eternidade me bastava.
E desejava a vertigem
do incêndio partilhado.
O fruto.

Agora,
quero apenas
o que havia antes de haver vida.
A semente.

Mia Couto
Idades, Cidades, Divindades

Google Imaens 
(desconheço a autoria)
 
.

Ser fingido (ou fingindo ser)



 













Escolher a própria máscara é o primeiro 
gesto voluntário do humano.

Clarice Lispector


Google Imagens
 (desconheço a autoria)

 

O que o outro lado esconde





Eu ia muito a ópera no São Carlos, e ia sempre lá para a parte de cima onde havia uma coroa. Quer dizer, o camarote real começava embaixo e ia até lá em cima e fechava com um coroa dourada enorme. Coroa essa que vista do lado da platéia e do lado dos camarotes era uma coroa magnífica. Do lado em que estávamos não era, pois ela só estava feita entre as quartas partes, e dentro era oca, e tinha teias de aranha, e tinha pó. Isso foi uma lição que eu nunca esqueci: para conhecer as coisas há que dar-lhes a volta toda.


Janela da Alma 
(documentário brasileiro de João Jardim e Walter Carvalho)

Imagem: Takao Onozato/amanaimages/Corbis

O barco que me conduz pelas plácidas águas do amor














Vê como o verão

súbitamente se faz água no teu peito,

e a noite se faz barco,

e minha mão marinheiro.

Eugénio de Andrade


Imagem de Remil Bernali/Corbis

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8 de junho de 2008

Os fragmentos do tempo




Nas horas que se desagregam, que desfio entre os meus dedos parados, sou a que sabe sempre que horas são, que dia é, o que faz hoje, amanhã, depois. Não sinto deslizar o tempo através de mim, sou eu que deslizo através dele e sinto-me passar com a consciência nítida dos minutos que passam e dos que se vão seguir.

Florbela Espanca 
Um piscar de olhos


Imagem: a manh'ser.

As cores do sentimento
















Desconheço a famosa angústia do papel branco
as emoções são em cores (o sangue é vermelho!)
mesmo as mais escuras
implicam rugosidades, texturas.

Brissos Lino

Google Imagens
(desconheço a autoria)

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7 de junho de 2008

O silêncio das palavras


 













devastador é o temor das palavras
que desistem nos lábios
à beira de serem ditas.

mas não há salvação
quando se escolhe o silêncio para morrer.

mas não há salvação
Maria José Quintela
Do Lugar em Mim

.

O mar da vida















Lançamos o barco.
Sonhamos a viagem;
quem viaja é sempre o mar. 
Mar me quer
.Imagrem: Pucu/Grand Tour/Corbis

6 de junho de 2008

Epílogo



Podes dizer ao mundo inteiro
que estas letras são tuas.
assim como os desenhos que fiz,
os espaços que deixei.
Podes dizer a toda a gente que um dia
te amei e que foste tu quem me fez poeta.
Podes nadar em orgulho ao saber
que todos os copos que bebi foram por ti.
Que os cigarros que fumei ansiosa e
apressadamente foram pela saudade
do teu corpo.

Quando falarem de raios e relâmpagos,
de trovões e de tufões, vais poder
dizer que fui eu quem fez a China,
quem ergueu muralhas e deitou as
lágrimas de sangue.
Quando te perguntarem se um dia me
conheceste, diz que sim.

Responde um afirmativo de poder e de vontade.
Podes deixar o medo do conhecimento
alheio, agora que te sou realmente alheia.
Quando um dia o mundo se
desfizer verdadeiramente em estações trocadas
o Verão pelo Outono ou o Inverno pela
Primavera - aí podes descansar.
Podes contar à galáxia e aos seus
sobreviventes que, meu eterno desconhecido,
um dia me fizeste rainha.
...

José Eduardo Agualusa
Egoísta, nº 32




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Atrás da porta









Há coisas conhecidas e coisas desconhecidas; 
entre elas, ficam as portas.

William Blake


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Sossega coração

Imagem modificada de Miguel Costa



Divagando




Não sei em que tempo da vida eu me fixei
Não sei das vezes que venci ou fracassei
Não sei se sabia das coisas ou se assim julguei
Não sei se cresci, regredi ou estacionei
Se bem ou mal resolvida aqui cheguei
Com marcas tantas e tão doloridas que nem sei
Se são plausíveis, os sonhos todos que sonhei.
Amores, os tive para perder
A cada amor, lágrimas infindas a correr
Qual se fora estranha predestinação
Ver lacerado sempre e tanto o coração
Que pela ausência de amor, já quis morrer.
Esta é talvez a minha sina
Buscar aqui e ali na minha'lma alguma rima
Verter momentos doces, quentes, quietos
Como que a implorar:
Quero viver!

Fátima Irene Pinto

Google Imagens
(desconheço a autoria)